O dia em que Chico Xavier tranquilizou Paraíso — o registro histórico do Jornal do Sudoeste em 1987
Julho
de 1987 ficou marcado na história recente de São Sebastião do Paraíso por um
episódio inusitado que mobilizou a cidade e toda a região. Às vésperas da
tradicional Exposição Agropecuária — a Expar, evento aguardado no calendário
local —, boatos começaram a circular, espalhando apreensão entre a população.
Comentava-se, de forma insistente, que o médium mineiro Francisco Cândido
Xavier, o mundialmente conhecido Chico Xavier, teria feito uma predição sobre
uma catástrofe que atingiria o Sul de Minas e provocaria a morte de cerca de
mil pessoas.
A
notícia, sem origem identificada, ganhou força nas rodas de conversa, nas ruas
e nos rádios, a ponto de colocar em risco a realização da festa, que já se
tornara símbolo de lazer, confraternização e negócios agropecuários para toda a
região. Preocupado com o impacto e a seriedade do boato, o Jornal do Sudoeste
decidiu apurar a verdade diretamente na fonte.
Por
meio de contatos feitos com Uberaba, cidade onde Chico residia, a redação do
jornal buscou confirmar a veracidade da suposta “predição”. O médium, no
entanto, encontrava-se enfermo e, por orientação médica, em repouso absoluto,
impossibilitado de conceder entrevistas. Ainda assim, demonstrando a atenção e
a gentileza que sempre o caracterizaram, Chico Xavier enviou uma resposta ao
jornal — um telegrama histórico, que dissipou o medo e devolveu a tranquilidade
à cidade.
A
informação, publica-da nas páginas do Jornal do Sudoeste, trazia o seguinte
teor:
“Peço
obséquio, distinto jornalista, desmentir boato manifesto espalhado em meu nome
quanto à festa programada para esta nobre cidade de São Sebastião do Paraíso.
Todos boatos falsos, pessoas irresponsáveis. Desejo pleno êxito às festividades
esperadas, rogando a Jesus que nos abençoe e proteja a todos. Agradeço
antecipadamente. Votos de saúde e felicidades extensivos a todos os habitantes
dessa generosa cidade. Respeitosas saudações.
— Chico Xavier.”
A
publicação teve efeito imediato: o público compareceu em grande número à Expar
1987, que transcorreu em clima de alegria e segurança, consolidando-se como um
dos eventos mais bem-sucedidos da década.
RESPONSABILIDADE DA PALAVRA E
DAS FAKE NEWS
Em
julho de 1987, o Jornal do Sudoeste estava prestes a completar dois anos de
circulação quando São Sebastião do Paraíso foi tomada por uma onda de boatos.
Espalhou-se,
com rapidez surpreendente, uma falsa profecia atribuída ao médium mineiro
Francisco Cândido Xavier, o querido Chico Xavier, envolvendo previsões
catastróficas sobre a então esperada Expar. A mentira se propagou com tamanha
força que chegou a causar inquietação na comunidade.
O
Jornal do Sudoeste, publicou resposta contida em telegrama que Chico enviou à
nossa redação. E na mesma edição, Editorial externando o ponto de vista de que
a palavra deve ser utilizada como instrumento de construção — e não de
destruição.
A
seguir, reproduz-se integralmente o teor do editorial publicado à época:
A PALAVRA COMO COMPROMISSO
Quase
quatro décadas depois, o texto continua a ecoar com impressionante atualidade.
Se, em 1985, o Jornal do Sudoeste reagia a um boato espalhado de boca em
boca, hoje, as redes sociais potencializam mentiras em velocidade e escala
incomparáveis.
As
chamadas fake news seguem a mesma lógica descrita no editorial: a
palavra sem critério, a invenção travestida de verdade, a manipulação que
alimenta o medo e a discórdia.
A
reflexão proposta há quase 40 anos permanece urgente: a palavra tem peso, poder
e consequência. O jornalismo responsável é, por essência, o antídoto contra a
desinformação. Cabe à imprensa — e a cada cidadão — cultivar o senso crítico,
apurar antes de compartilhar, e lembrar que construir é sempre mais nobre que
destruir.
Relembrar
esse episódio é reafirmar um compromisso que o Jornal do Sudoeste mantém
desde sua origem: o de ser uma tribuna livre e ética, onde a verdade, a
serenidade e o respeito à inteligência do leitor sempre prevalecem.
EDITORIAL – 25 DE JULHO DE
1987
“Há
palavras que saem do coração e conseguem levar alento, consolo, otimismo;
enfim, fundamentadas no objetivo de construir, se multiplicam de tal forma que
se tornam alavancas produtivas, capazes de injetar vibrações positivas,
promovendo o progresso de maneira harmoniosa.
Num
mundo conturbado e de ideias heterogêneas, inevitavelmente outras correntes de
pensamento, voltadas para propostas menos dignas, se farão apresentar nos mais
diversos segmentos, oportunidades e épocas, e também, por sua vez, fatalmente
irão atingir seu intento, qual seja, semear discórdia, intranquilida-de,
pânico. São os que estão sintonizados com as brincadeiras de cunho destrutivo,
e nesse caso saem as palavras de corações doentios.
Não
é privilégio dos países subdesenvolvidos tal prática que visa verdadeiras guerras
brancas, onde a palavra mal colocada se transforma em ferramenta destruidora.
Também nas nações que atingiram estágios tidos como padrões de cultura, pode-se
detectar o negativismo programado. Entretanto, prevalece o senso crítico em se
distinguir verdades e imposturas.
Causa
tristeza quando nota-se que nós, os brasileiros, estamos tremendamente
vulneráveis neste aspecto. Ao menor impulso, propala-se, sem o menor critério,
o disse-me-disse, assumindo quase sempre progressão geométrica ao se espalhar
em ‘verdades’.
Exemplo
típico ocorreu em São Sebastião do Paraíso, quando pessoas com visível
interesse em desarticular o sucesso que se antevê para a Expar, espalharam uma
onda negativa, atribuindo ao conhecido e respeitável médium espírita Francisco
Cândido Xavier uma previsão catastrófica.
Ora,
não é necessário ter convivência espírita para se saber que o médium mineiro
jamais, em nenhuma oportunidade, fez adivinhações. Nas suas entrevistas às
emissoras de rádio, TV ou imprensa escrita, Chico sempre se prima pela mensagem
otimista — fato sobejamente transparente — sendo suas afirmativas cuidadosas e
medidas, voltadas para a edificação da paz e concórdia.
Pelas
suas mãos, mais de 200 livros foram psicogra-fados, além de uma infinidade de
mensagens confortadoras, sem o menor propósito de autopromoção. Pela sua voz,
abatida pelo trabalho incessante e fortalecida pelo intercâmbio sadio com o
mundo maior, Chico Xavier ocupa-se com tarefas mais dignas.
Por ser uma figura conhecida e respeitável, certamente seu nome foi usado indevi-damente. Pena que tenha ocorrido. Lamentável que há quem acredite”.


