Início da colheita revela safra desuniforme e preocupações com rendimento em Paraíso

José Aparecido Ricci, técnico em fitotecnia, pós graduado em cafeicultura empresarial Foto: Reprodução

Com o início da safra na região de São Sebastião do Paraíso, alguns produtores começaram a colheita, mas muitos interromperam o trabalho ao perceberem uma grande desigualdade no estágio de maturação dos grãos. O técnico em fitotecnia, pós graduado em cafeicultura empresarial, José Aparecido Ricci comenta a atual situação das lavouras e as expectativas para a colheita de 2025.

“Em algumas propriedades a colheita começou, mas foi rapidamente suspensa por causa da desigualdade dos grãos. Ainda temos muito café verde na lavoura. Houve uma primeira florada no começo de setembro e outra mais significativa no final de outubro. Essa diferença criou uma disparidade muito grande no ponto de maturação. A proporção de grãos verdes ainda é maior do que a de maduros”, explica Ricci.

Segundo ele, colher nesse estágio compromete o rendimento e a qualidade do café: “O rendimento do café verde é muito baixo, o tipo é ruim e há necessidade de uma catação muito alta. Além disso, vimos uma porcentagem significativa de grãos xoxos e mal granados, reflexo da falta de água no período crítico de enchimento.”

Com vasta experiência, incluindo seu trabalho no extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC) entre 1973 e 1990 na assistência técnica, que depois de sua aposentadoria também foi prestada a cafeicultores em diversas regiões do Estado de Minas, Ricci lembra que nunca viu uma seca como a deste ano. “Só me lembro de uma semelhante em 1963, quando era menino. Esta seca foi devastadora. Lavouras queimaram, houve fogo em diversas propriedades. Estamos diante de uma safra indesejável, muito abaixo do esperado.”

Durante sua entrevista ao Caderno Agro, Ricci de maneira prática demonstrou o atual quadro de lavouras na região de São Sebastião do Paraíso. Colocou em um recipiente com água, 100 grãos de café colhidos numa lavoura. Ao analisar os grãos, 8% eram xoxos, e muitos dos que afundaram na água também apresentavam má formação, o que compromete a bebida. “O que acontece é que o café tem dois ovários. Quando há seca, um deles pode se desenvolver mal, gerando grãos mal formados, que acabam indo para a palha no beneficiamento”, salienta.

Ele destaca ainda que o amadurecimento está acontecendo de forma irregular: “Há uma queda de maturação nas lavouras. Os grãos maduros hoje são os da florada de setembro. Os verdes vêm da florada de outubro. O enchimento foi fraco, e o resultado são grãos menores e de baixa qualidade”.

Sobre a segunda estimativa de safra divulgada pela Conab recentemente indicar produção nacional em 55,7 milhões de sacas, o técnico afirma que a realidade em campo é outra. “Para fazer um bom café, vamos precisar de muitos litros. O grão está pequeno, mal formado, e isso vai gerar uma quebra de rendimento grande, acima de 20% em algumas lavouras. Mesmo com volume aparente, o café é de peneira baixa”.

Ainda assim, ele aposta na recuperação, se o clima colaborar: “Se não houver novos eventos climáticos severos, a próxima safra, 2026 - 2027 tem potencial para ser boa. A planta mostra sinais de recuperação”.

Por fim, com bom humor, José Aparecido resume o espírito do produtor rural:

“O produtor é teimoso. Quem cultiva café é pior que cachaça – não larga nunca. Mas a situação é preocupante. Já estão fazendo pressão para baixar os preços, e as previsões são muitas vezes infladas por interesses de mercado. Algumas estimativas falam em mais de 65 milhões de sacas, mas, aqui na nossa região, a realidade é outra: a safra é pequena. Os armazéns vão ficar cheios… de ar”.